Arquitetos fazem mobiliário reutilizando peças de construção civil
Canos no meio da sala, uma corda no quarto e placas de cimento no escritório. Parece que a casa está em obras, mas não. Os arquitetos Paulo Moreira e Rodolpho Maciel inovam na criação de móveis. O Mobipallet, estúdio da dupla, investe no design de mobiliário feito com materiais reciclados e de construção civil. Este ano, eles vão embarcar rumo a Paris para participar de um leilão com peças de designers brasileiros.
— Eu sinto muito orgulho quando pego o catálogo do leilão do ano passado e vejo grandes nomes da arquitetura brasileira, como Oscar Niemeyer, Joaquim Tenreiro e Zanine, e me lembro que, este ano, com tão pouco tempo de trabalho, vamos estar nos catálogos também — conta Moreira, criador do estúdio.
Mas o trabalho da dupla não é só o de reaproveitar materiais da construção civil para usá-los nos móveis: eles também utilizam, de maneira inusitada, matérias-primas que não são vistas com frequência em peças de mobiliário.
— Nós propiciamos uma segunda etapa a materiais que já tiveram vida pesada. São objetos majoritariamente utilizados em ambiente industrial. Depois de descartados, passam a ser nossas matérias-primas — comenta Moreira. — Mas também usamos peças que as pessoas não estão acostumadas a ver em móveis, como as pedras hijau e hitam, da Indonésia, originárias de solo vulcânico.
A produção do mobiliário é feita em pequena escala e, parte dela, manualmente. De acordo com Moreira, a linha de móveis colecionáveis une arte e design.
— Nosso caminho é elevar o design ao nível de obra de arte e mostrar que o limite entre os dois não existe. As peças não são para pessoas que consomem design, mas para quem o adquire. E elas têm uma grande surpresa quando verificam a existência de objetos criados com esses materiais de forma tão inusitada — afirma Moreira. — O way of life que pregamos é uma vida baseada em produtos que primam pelo bom desenho e pela qualidade.
O Mobipallet foi criado em Niterói há dois anos, depois de Moreira ficar desempregado devido à crise econômica. Desenhar peças já era um hobby que ele mantinha. Como precisava se reinventar profissionalmente, decidiu produzi-las e comercializá-las.
— Durante 15 anos trabalhei com grandes projetos industriais nas áreas de engenharia e arquitetura. Estava em contato, diariamente, com materiais de obra; recebia muitas cargas e pensava em aplicar esse tipo de material no mobiliário de forma inusitada. Eu sempre fui viciado em criar, então pensei que era hora de fazer o que sempre fiz na vida.
Em 2017, o Mobipallet recebeu mais uma mente criativa. A convite de Moreira, o amigo e também arquiteto Rodolpho Maciel começou a desenhar para o estúdio.
— Estava em transição de uma empresa para outra quando o Paulo me convidou. Como nós tínhamos basicamente as mesmas ideias e eu já fazia móveis, decidimos nos juntar — relembra Maciel.
O negócio, conta Moreira, começou a se firmar em meados de 2017, quando a dupla inscreveu três peças de mobiliário na mostra Novos Talentos Brasileiros — Design e Arte, que ocorre no CasaShopping, na Barra da Tijuca, e todas foram aprovadas:
— Foi uma surpresa. Não que eu tivesse dúvidas sobre a qualidade do material, mas pude perceber que as pessoas também estavam reconhecendo nosso trabalho.
Interesse de gringos
O estúdio abriu sua primeira loja em Búzios. Em formato de loja conceito — estabelecimentos que prometem proporcionar uma experiência além da compra ao cliente —, o local vem atraindo turistas estrangeiros.
— Grande parcela do público é do exterior. Essas pessoas estão identificando a qualidade do nosso produto e pouco se importando com quanto vão pagar para levar esses móveis para os países delas — comemora Moreira. (Época Negócios)