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Brasil ocupa o 73º lugar em qualidade de infraestrutura mundial e com deficiências graves em logística, saneamento, energia e também na transmissão de dados

Como parte da série Panorama Brasil, os estudos “Infraestrutura: regras e incentivos” e “O setor de Telecomunicações” estão sendo divulgados hoje pela Oliver Wyman, empresa líder mundial em consultoria de gestão. O projeto é composto por uma série de artigos que serão divulgados no decorrer do ano de 2018 e que contam com a contribuição de especialistas nos temas tratados, assim como instituições de ensino de renome.
Nesses dois novos artigos, coordenados por Vinicius Carrasco da PUC-Rio e Ana Carla Abrão da Oliver Wyman, são apresentadas análises sobre o atual estágio da infraestrutura brasileira, em particular nos setores de logística, energia e saneamento, além da situação da banda larga no Brasil, demais aspectos de telefonia, regulamentação desse mercado e da tecnologia no País.
O principal ponto na área de infraestrutura e regulação é que o Brasil, apesar de ser a 8ª economia do mundo, ocupa apenas o 73º lugar em qualidade globalmente. O problema se agrava com a atual crise fiscal que gera a impossibilidade de promover a melhoria necessária na infraestrutura com recursos públicos. Outro dado alarmante é que apenas 56% dos brasileiros têm acesso a coleta de esgoto, algo essencial para a saúde da população do País.
Dessa forma, cabe ao setor privado atender a essa demanda por investimentos. No entanto, a tarefa de atrair investimentos desse setor e assegurar uma alocação eficiente de recursos não é simples. Projetos de infraestrutura têm características únicas que exigem uma estrutura legal e regulatória bem desenhada, garantindo estabilidade de regras e gestão de riscos que permita a atração de recursos privados de longo prazo.
Na área de telecomunicações, embora a universalização tenha ocorrido a partir da privatização dos anos 90, os destaques negativos ficam por conta da baixa penetração e velocidade da banda larga, que perde para muitos países da América Latina e Caribe, e chega a ser mais do que seis vezes mais lenta do que a Coreia do Sul, País que possui a maior velocidade no mundo. A Internet no Brasil é quase cinco vezes mais lenta que a velocidade média dos 10 países com maior velocidade. Além disso, nosso serviço possui baixa qualidade e é muito caro se comparado com os nossos vizinhos da América Latina.
Para Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman Brasil: “A infraestrutura do nosso país é deficiente e não está universalizada, o que gera custos adicionais para múltiplos setores e impacta negativamente a nossa produtividade. Estamos atrás da China, da Índia, África do Sul e do Chile no LPI (Logistics Performance Index), por exemplo. E isso é uma situação que precisa mudar, mas só irá mudar se criarmos as condições para que o setor privado invista, garantindo os volumes necessários de recursos para reverter a atual tendência”, explica a executiva.
“Para se ter uma ideia da defasagem, a China investe cerca de 7% do seu PIB (Produto Interno Bruto) em infraestrutura, e a Índia investe cerca de 5,5%. Já o investimento do Brasil é de 2,2% anualmente. Estudos estimam que o investimento anual em infraestrutura precisará aumentar para 3,2% do PIB nos próximos 20 anos, apenas para manter a estrutura atual”, finaliza Abrão.
Mesmo os países que já possuem uma infraestrutura bem desenvolvida e cujo foco é a manutenção – em vez de construir novas infraestruturas –, tendem a investir mais. Singapura, por exemplo, investe cerca de 2,5% do PIB, e os Estados Unidos, apenas em infraestrutura para água e transporte, investem mais de 2,5%.
A eletricidade no Brasil está praticamente universalizada e 80% da energia do país advém de fontes renováveis, algo louvável. Ainda assim, o sistema tem sua parcela de problemas, incluindo a má qualidade do serviço de distribuição e algumas das mais caras energias por megawatt no mundo. O acesso universal exigiria investimentos de mais de 5% do PIB anualmente, o equivalente a mais de R$200 bilhões em capital por ano.
“A posição do Brasil nos rankings globais seria ainda pior se não fosse pelo índice de penetração de linhas telefônicas fixas, onde ocupa a 49ª posição. Finalmente, com 62% da população brasileira se declarando insatisfeita com a infraestrutura atual, temos uma das mais baixas avaliações do mundo”, pondera Alessandro Jorge, sócio da Oliver Wyman Brasil.
A estrutura do mercado de capitais no Brasil também contribui para afastar investidores privados dos projetos de infraestrutura. Para alocar receitas e riscos entre os diferentes investidores é necessário ter instrumentos financeiros compatíveis.
No Brasil, há poucos instrumentos disponíveis com liquidez suficiente para canalizar fundos privados para infraestrutura. Esse cenário pode mudar, mas isso exige uma agenda de pequenas e importantes reformas para fomentar novos instrumentos de financiamento e dar mais liquidez a um mercado ainda muito reduzido. (Maxpress)

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