Crescimento do crédito habitacional aproximará a moradia do trabalho
O ano começou com perspectivas bastante positivas para o setor de construção. As entidades representantes do segmento esperam um ano melhor que 2019, impulsionado pelo crédito habitacional, pela retomada dos investimentos em infraestrutura (leilões, concessões e outros), e pelo próprio crescimento econômico.
A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) estima que o setor avançará 3% em 2020, e que cerca de 500.000 novos empregos sejam criados direta ou indiretamente. Essa perspectiva de avanço vale para todos os segmentos da construção civil: mercado imobiliário, infraestrutura, obras públicas e obras industriais e corporativas.
“Nós acreditamos que a partir de 2020 todos esses segmentos vão crescer. Até agora, houve aquecimento apenas da habitação de mercado, que é aquela que atende às classes média e alta”, avalia José Carlos Martins, presidente da CBIC.
Quais serão os destaques no setor imobiliário? É justamente a habitação para as famílias com médio e alto rendimento que deve se destacar neste ano. A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) prevê um crescimento de 20% a 30% nos lançamentos de imóveis desse perfil.
As moradias de baixa e média-baixa renda, principalmente as contratadas no programa MCMV (Minha Casa Minha Vida), que já foram o principal motor do setor, devem ter um avanço mais modesto: de até 10%. O número estaria em linha com o crescimento dos últimos anos, e é justificado pela menor destinação de recursos para o programa.
Já os imóveis que não são financiados pelo MCMV devem ser beneficiados pela redução nos juros. Os grandes bancos brasileiros têm reduzido as taxas cobradas nos financiamentos habitacionais, além de aumentar o percentual do valor da compra que pode ser financiado.
Isso facilita o acesso ao crédito e amplia o tíquete-médio do financiamento — em outras palavras, as famílias terão mais dinheiro aprovado para buscar um imóvel, e assim poderão buscar unidades mais caras.
Isso significa que as residências maiores voltarão à cena? Não necessariamente. Luiz França, presidente da Abrainc, diz que a prioridade continuará sendo os imóveis menores (com um ou dois dormitórios), mas com melhor localização. “As pessoas têm o interesse de morar perto do trabalho e do transporte público. Elas não estão preocupadas com o tamanho dos imóveis, e sim com as facilidades que terão ao seu redor — e o mercado vem acompanhando essa tendência”, diz ele.
Os dados da Abrainc que acompanham os pedidos de alvará (documento necessário para iniciar a construção de um empreendimento) em São Paulo, maior capital do país, corroboram essa ideia. A região que mais ganhou lançamentos até o terceiro trimestre do ano passado foi a Zona Sul, onde fica boa parte dos centros comerciais da cidade. O número de alvarás cresceu 82% no período.
E como fica o setor imobiliário fora das capitais? França, da Abrainc, vê um crescimento mais lento nas cidades do interior, ainda que o cenário seja positivo. “A melhora que foi vista em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, no ano passado deve chegar às cidades menores ao longo de 2020”, prevê o presidente da entidade.
Para essas regiões, o desemprego e a redução de investimentos de governos municipais e estaduais têm um peso negativo grande na renda e, consequentemente, no crescimento habitacional.
Os imóveis comerciais se recuperaram? O segmento foi castigado nos últimos anos, com altos índices de vacância. No entanto, uma combinação de fatores tem motivado uma rápida recuperação.
O primeiro é a própria recuperação da economia, que gera efeitos positivos no setor privado. Outro fator positivo é o crescimento dos fundos imobiliários, que mostra por um lado que o retorno com os aluguéis das unidades comerciais está em alta, e por outro que há oferta de recursos para a construção de novos projetos.