Aplicativos permitem que proprietários de imóveis nos EUA elevem a rentabilidade de suas propriedades
Aos 66 anos, a dona de casa paulista Lina Angelica Costa Caminha é uma fã da Disney desde os anos 1960, entusiasmo compartilhado por suas seis netas. Com o crescimento da família, mudaram as opções de hospedagem. No ano passado, os 14 viajantes do clã optaram por alugar uma casa de seis quartos. Segundo Lina, além da praticidade de ter todos perto sem a impessoalidade de um hotel, o custo compensa. A mesma casa já está reservada para as próximas férias. “Pedido das netas”, diz ela.
Para o administrador de empresas Eduardo Bitencourt, essa demanda é muito bem-vinda. Residindo no Panamá há dez anos, ele adquiriu uma casa em Orlando em 2015, que oferece para locações temporárias. “Uso aplicativos como Airbnb, Homeaway e Tripadvisor para alugar a casa”, diz ele. “Eles me garantem divulgação e permitem acompanhar a demanda de perto.” Bitencourt diz que o capital investido no imóvel rende cerca de 5% ao ano em dólares, o que lhe permite quitar dez das 12 parcelas mensais do financiamento. “Meu custo mensal é zero, a casa se paga, e eu estou formando um patrimônio com o retorno do próprio investimento.”
As compras de imóveis para locação temporária nos Estados Unidos, chamados de vacation homes, movimentaram US$ 25 bilhões em 2016. No caso da Flórida, a liderança desse movimento é dos brasileiros. A aquisição de um imóvel americano sempre foi uma opção para investidores da América Latina que querem diversificar seu patrimônio e ancorar parte de seu dinheiro em uma economia mais estável. O que mudou, agora, é a maneira como esse patrimônio é rentabilizado. Em vez do modelo de locação tradicional, a popularização de aplicativos de hospedagem como Airbnb permite fechar negócios de maneira remota e com agilidade, o que eleva o percentual de ganho.
“É possível adquirir uma casa que se pague totalmente por meio do aluguel e que ainda ofereça uma oportunidade de renda”, diz Ricardo Molina, CEO da imobiliária Talent Realty, em Orlando. “O proprietário que fizer uma gestão ativa do imóvel conseguirá uma boa taxa de ocupação e vai obter retornos acima da média”, diz ele. O retorno mais frequente oscila entre 4% e 6% ao ano, mas, em casos excepcionais, é possível obter ganhos de dois dígitos. “Mas isso só para quem for mestre no uso dos aplicativos e se dedicar a essa atividade em tempo integral, como se fosse um emprego”, diz ele. “O sujeito tem de ficar o tempo todo atento ao celular e tem de fechar negócios enquanto estiver na igreja ou no aniversário do filho.”
O negócio tem crescido, graças ao uso intensivo da tecnologia. No ano passado, os proprietários de imóveis nos Estados Unidos contabilizavam uma centena de sites especializados em vacation homes. Somente os quatro maiores portais ofereciam 3,9 milhões de imóveis para locação. Comprar um imóvel com esse fim pode compensar, tendo em vista os juros baixos cobrados nos financiamentos imobiliários americanos. As taxas totais ficam ao redor de 6% ao ano, e os prazos oscilam entre 15 e 30 anos. Em geral, o banco exige uma entrada de 25% do valor total, e a comprovação de renda para honrar as prestações. O financiamento mínimo é de US$ 100 mil.
No entanto, os imóveis mais demandados para o aluguel de temporada são mais caros que isso, com preços que oscilam entre US$ 250 mil e US$ 300 mil. A exigência mínima é de uma casa em condomínio, com quatro dormitórios. Itens como piscinas ajudam o locatário a se decidir. O aluguel de um imóvel com esse perfil em Orlando, perto dos parques de diversão, rende em média US$ 120 por dia ao proprietário, depois de pagar os impostos e as taxas dos gestores da propriedade, uma exigência local. “Se o proprietário morar a mais de 50 milhas (80 quilômetros) do imóvel, ele tem de contratar uma pessoa para receber os inquilinos e cuidar da manutenção”, diz Molina. Esse gestor cobra uma taxa mensal de até US$ 150, e mais um percentual do aluguel cobrado.
A popularização desses investimentos elevou as remessas de pessoas físicas do Brasil aos Estados Unidos. A cifra foi de US$ 408 milhões no primeiro semestre, segundo dados do Banco Central (BC), uma alta de 227% em relação ao mesmo período do ano passado. O último relatório sobre Compradores Estrangeiros de Imóveis da Associação de Corretores de Imóveis de Miami informa que, em 2016, auge da crise, foram investidos US$ 6,2 bilhões, valor semelhante aos US$ 6,1 bilhões de 2015. No ano passado, foram negociadas cerca de 10,8 mil residências, leve alta em relação ao ano anterior (veja o quadro ao final da reportagem).
Quais os riscos? Segundo o consultor financeiro independente Augusto Sabóia, especializado em investimentos americanos, o investidor tem de ter em mente que o mercado imobiliário tem suas peculiaridades. “A rentabilidade das ações e dos imóveis é afetada pelo que acontece em Washington, mas o retorno do imóvel também pode ser afetado pelo que acontece na rua de baixo”, diz ele. Assim, quem estiver pensando em comprar um imóvel nos Estados Unidos tendo em vista ganhar dinheiro com a locação precisa estar preparado para lidar com assuntos como tributação e legislação americana. E, principalmente, saber o que está comprando. “Warren Buffett disse uma vez que investia em ações porque achava o mercado imobiliário muito complicado”, diz Sabóia. “Os imóveis são diferentes entre si, e os condomínios têm suas particularidades, então o investidor tem de saber o que está comprando antes de tomar sua decisão.” (Revista Dinheiro)