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Crédito para casa própria cresce neste ano no Brasil, diz Moody’s

O financiamento imobiliário residencial deve ganhar força no Brasil nos
próximos 12 a 18 meses, com um declínio gradual da inadimplência nas faixas
de atraso iniciais e a classe média lentamente retornando a uma situação
financeira mais sólida após a recessão econômica dos últimos anos.
Incertezas políticas, no entanto, são um entrave.

A avaliação é da agência de classificação de risco Moody’s em relatório
divulgado nesta segunda-feira (18) sobre financiamento imobiliário em países
emergentes (Brasil, México, Rússia, Turquia e África do Sul).

“O crescimento da classe média e da urbanização impulsionará a expansão do
mercado de financiamento imobiliário nos principais mercados emergentes”,
afirmou Antonio Tena, vice-presidente e analista sênior da Moody’s.

No Brasil, os financiamentos imobiliários com recursos do SBPE (Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo) totalizaram R$ 4,11 bilhões em abril,
aumento de 8,1% em relação a março e avanço 31,2% na comparação com igual
mês do ano passado, de acordo com a Abecip (Associação Brasileira das
Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). No acumulado em 12 meses,
porém, o montante financiado de R$ 45,25 bilhões ainda mostra pequeno recuo,
de 0,3%, em relação aos 12 meses anteriores.

Segundo a Moody’s, o mercado brasileiro de crédito imobiliário residencial
se expandiu substancialmente nos últimos dez anos impulsionado pelo
crescimento da classe média, baixas taxas de desemprego e maior renda
disponível.

O relatório observa que, hoje, o desemprego brasileiro está em níveis altos,
mas pondera que ele caiu para 12,2% em janeiro de 2018, de 13,7% em março de
2017.

“Ao mesmo tempo, os ganhos reais das famílias vêm crescendo desde junho de
2017 devido à recuperação econômica e à inflação em mínimas históricas”, diz
a Moody’s.

O estudo destaca também que vários mercados de habitação estão
experimentando uma forte apreciação do preço dos imóveis, atribuída à alta
inflação, mas o Brasil é a exceção, “dada a recente recessão em 2015 e 2016
e a subsequente deflação dos preços da habitação.”

Pesquisa Focus, do Banco Central, publicada também nesta segunda mostra que
economistas veem inflação de 3,88% em 2018 e de 4,1% em 2019.

Segundo a Moody’s, outro recorde de baixa, dessa vez das taxas de juros em
2017, permitiram que bancos renegociassem condições com tomadores de
crédito, um quadro que deve continuar apoiando o desempenho do financiamento
imobiliário.

Apesar da escalada do dólar ante o real nas últimas semanas, o mercado não
alterou a visão de que a taxa básica de juros, a Selic, será mantida na
atual mínima histórica de 6,5% ao ano após a reunião desta quarta (20) do
Copom (Comitê de Política Monetária) e também até o fim do ano. A
valorização da moeda americana, no entanto, pode elevar as taxas de juros
futuros -referência para o financiamento imobiliário, em que são assumidos
compromissos de longo prazo.

Segundo a agência, a taxa bruta de matrícula no ensino superior -um
indicador das expectativas para o crescimento da classe média- mostra uma
melhora clara em quase todos os países, especialmente na Turquia e no
Brasil.

Um número maior de famílias na classe média teria mais acesso a crédito
bancário para garantir os financiamentos de imóveis residenciais, aponta a
agência. Na avaliação da Moody’s, muitas das pessoas que chegam à classe
média têm acesso ao financiamento imobiliário pela primeira vez na vida.

“O Brasil ainda tem um déficit habitacional significativo de cerca de seis
milhões de moradias, com a maioria da população vivendo em áreas urbanas.
Para essas famílias, um financiamento representa a oportunidade de adquirir
uma residência potencialmente por toda a vida, um incentivo para os
mutuários se manterem em dia com seus pagamentos”, diz o relatório.

Pesquisa da Fundação João Pinheiro mostrou que o gasto excessivo com aluguel
(acima de 30% do orçamento familiar) é o fator que mais pressiona o atual
déficit habitacional no Brasil.

A Moody’s diz ainda que a Turquia e, em menor medida, o Brasil estão
mostrando uma taxa de aceleração rápida no número de autorizações de
habitação, “um indicador prospectivo de uma oferta crescente de imóveis
residenciais.”

O avanço do crédito imobiliário brasileiro esbarra na concessão de
empréstimo à construção e na recuperação do setor. Enquanto o PIB (Produto
Interno Bruto) do Brasil cresceu 0,4% no primeiro trimestre, a construção
civil recuou 0,6%.

O saldo de crédito para financiamento imobiliário a pessoas jurídicas com
recursos direcionados caiu de R$ 38,6 bilhões em abril de 2017 para R$ 32,5
bilhões, segundo o BC.

Enquanto isso, o saldo para pessoas físicas passou de R$ 478,4 bilhões em
abril de 2017 para R$ 510,4 bilhões em abril deste ano. E a taxas médias de
juros recuou, de 13,7% para 10,8%.

A Moody’s espera um crescimento do PIB brasileiro de 2,5% para 2018 e de
2,7% em 2019, “um nível significativo de expansão diante da magnitude da
última recessão econômica”, disse -e acima da projeção do Focus para 2018,
de 1,76%.

O relatória da agência acrescenta, no entanto, que ainda há incertezas
políticas precedendo as eleições de outubro.

“Embora exista um alto grau de consenso entre os líderes políticos de que a
reforma previdenciária é necessária para salvaguardar a sustentabilidade
fiscal, implementá-la poderia paralisar o crescimento econômico e o ritmo da
recuperação financeira dentro da classe média”, afirma a Moody’s,
acrescentanto que poderiam ser observadas ainda desaceleração no ritmo de
investimentos corporativos e na criação de novos empregos.

Entre profissionais do setor de crédito imobiliário, o entendimento é de que
a aprovação de tais reformas levaria a uma queda nas taxas de juros futuros
e, consequentemente, a uma redução nos juros cobrados aos consumidores.
(Ibrafi)

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