Emprego formal na construção pode ter melhor ano desde 2013
O emprego formal na construção civil caminha para o que pode ser o melhor ano no setor desde 2013, na esteira do início da recuperação do mercado imobiliário em algumas regiões do país. Segundo pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) feita em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), nos 12 meses até setembro foi criado um saldo de 59,7 mil empregos no país. Na mesma época do ano passado, o resultado era negativo em 13,8 mil. Em 2013, 104 mil postos formais foram criados.
É um nível ainda longe do ‘boom’ do início da década, quando a geração
chegava a 300 mil vagas por ano, e está concentrado no segmento de
edificações, já que a infraestrutura continua a contribuir pouco para o
emprego. O estoque de trabalhadores da construção, que no auge, em 2014,
chegou a 3,6 milhões de pessoas, agora está em 2,4 milhões.
“É um crescimento lento, mas acredito que sustentável”, afirma Odair Senra, presidente do Sinduscon-SP. A queda dos juros do crédito imobiliário, que acompanha o recuo da taxa básica Selic, deve dar mais fôlego ao setor,
prevê. Em São Paulo, uma série de lançamentos de imóveis realizados em 2017 começa agora a se traduzir em atividade. “Isso se mostra claramente no aumento de 6% a 7% do emprego nos serviços do setor no Estado, como
engenharia, projetos e preparação de terrenos”, diz. O presidente do
Sinduscon-SP vê uma tendência positiva para o emprego já que a fase das
obras é a que mais emprega pessoal.
De acordo com dados do Secovi-SP, sindicato da habitação no Estado, em 12
meses até setembro os lançamentos na capital paulista cresceram 51,4%,
enquanto as vendas aumentaram 46,6%. Já os dados nacionais mostram que houve um aumento de 15,4% nos lançamentos, mas as vendas recuaram 2% no período, de acordo com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Desde o “fundo do poço” entre 2015 e 2016, emprego e confiança do setor
melhoraram, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV). O movimento de “despiora”, diz, começou a ganhar mais consistência em 2017. “Há uma percepção mais positiva.”
Outros dados mostram sinais um pouco mais alentadores. As vendas de material de construção cresceram 2% no ano até outubro e as de cimento aumentaram 3,6% no período, segundo a Abramat e a SNIC, associações desses segmentos. Na mesma época do ano passado, as vendas de material subiram 1% e as de cimento caíram 1,5%. Ainda assim, a confiança do setor ainda tem um longo caminho a percorrer. O Índice de Confiança da Construção, do Ibre-FGV, marcou 87,5 em outubro, ainda longe da média histórica de 100. Em outubro de 2015, o índice chegou à mínima de 63,4. Leituras abaixo de 100 indicam pessimismo.
Ana chama atenção para os dados nacionais de emprego, que no auge da crise chegou a uma contração de 505 mil – em setembro de 2016, contra os atuais 59,7 mil positivos. Mas ela aponta que a melhora está concentrada em São Paulo (capital, Campinas e Santos) e Belo Horizonte. Enquanto no primeiro caso, o crescimento se dá em edificações e serviços, na capital mineira o avanço está relacionado a reformas e manutenção. “É uma área pulverizada e heterogênea, mas com um total de empregados que não é desprezível na cidade.”
A queda da taxa de juros pode estar incentivando a demanda por imóveis em duas frentes, a dos consumidores finais e a dos investidores. De acordo com cálculo do Banco Inter, com base na renda familiar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, a queda dos juros coloca cerca de 30% das famílias em condições de contratar financiamentos no Sistema Financeiro de Habitação (SFI), ante 6% das famílias quando o juro estava acima de 10% ao ano.
“Quando o juro cai, aumenta o número de famílias que podem acessar
empréstimos porque a parcela cabe no orçamento”, afirma Rafaela Vitória,
economista-chefe do banco.
Senra, do Sinduscon-SP, diz que não há números consolidados, mas calcula que 40% dos imóveis lançados têm sido comprados por investidores. “É uma aplicação patrimonial segura que pode render mais que a renda fixa, agora que o juro abaixou”, diz. Em algum momento, porém, a parcela de compradores finais precisará aumentar para dar mais sustentabilidade a esse mercado, segundo ele.
Ana Castelo diz que a queda da taxa de juros é um estímulo ao investimento
em ativos reais, mas este é um setor que também depende de uma melhora mais substancial do mercado de trabalho. “O brasileiro ainda está sofrendo muito com a conjuntura. Sem melhora mais consistente em renda e emprego, é difícil pensar que esse movimento se sustente”, diz, ressaltando que a política habitacional do governo, ainda não muito clara, também influencia esse mercado.
No terceiro trimestre, os balanços das principais construtoras e
incorporadoras mostraram que a média e a alta renda puxaram a demanda por imóveis, enquanto houve desaceleração nos lançamentos no programa
habitacional Minha Casa, Minha Vida por causa da paralisação na concessão de financiamento à produção dos projetos do programa pela Caixa. (Valor Econômico / Ibrafi)