Madeira pode atender demanda crescente por habitação
Quando se projeta o mundo para daqui a 20 anos, é impossível não falar sobre o aumento da demanda de construções. Estima-se que, em 20 anos, serão necessárias habitações para 2,5 bilhões de pessoas. Neste cenário, a grande preocupação é com relação ao material utilizado para as construções dessas residências, já que o concreto ainda é a principal opção. Porém, com o aquecimento global, construir residências para 2,5 bilhões de pessoas utilizando o cimento é um grave problema. Esse é o alerta feito pelo engenheiro civil Guilherme Stamato, diretor da Stamade Projetos e Consultoria em Estruturas de Madeira e colunista do Portal Madeira e Construção. Ele participou, no início de abril, do 1º Workshop ABPM 2018: Preservação de Madeiras – Novas perspectivas, organizado pela Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM) em Santa Cruz do Rio Pardo (SP).
“É fundamental falar da importância da construção com madeira no Brasil e no mundo. Ao redor do mundo, a madeira já vem sendo muito utilizada como material construtivo de alta tecnologia, pois com a expectativa desse aumento da demanda por habitações, os países começaram a se preocupar em como construir com um material renovável, que não emita CO2, reduza o consumo de energia nas residências e que seja durável. Tudo isso de adequa à madeira”, garante.
Além dos benefícios ambientais, Stamato destaca que é possível também mudar a “cara” das cidades, pensando neste crescimento absurdo que acontecerá nos próximos anos, tornando as construções mais agradáveis e menos impactantes. Ele reforça, ainda, que, hoje, já é possível construir tudo em madeira, e lembrou que já existem prédios construídos com madeira. O mais alto do mundo, por exemplo, no Canadá, tem 18 andares.
“É uma grande tendência mundial para solucionar a situação dramática que estamos vivendo com relação ao efeito estufa. A madeira é renovável; não emite CO2 e ainda sequestra gás carbônico da atmosfera – em média uma tonelada de CO2 para cada metro cúbico de madeira; promove a redução de consumo de energia nas residências, proporcionando conforto térmico; e, com preservação, é durável”, aponta.
As construções com madeira tratada têm diversos nichos, segundo o diretor da Stamade. Um deles é a industrialização das estruturas, que está diretamente ligada ao consumo de madeira proveniente de florestas plantadas. Stamato lembrou que essas estruturas devem seguir a norma brasileira ABNT NBR 16143:2013 de preservação de madeiras, e destacou o importante trabalho da ABPM para isso. Segundo ele, seguir a norma dá suporte para que seja possível discutir com órgãos públicos os benefícios da madeira na construção civil.
No caso das estruturas de madeira de árvores plantadas, o Brasil tem três principais formas: wood frame, madeira laminada colada e treliças industrializadas. O wood frame é uma construção comparada com a construção americana. A diferença é que, lá, o processo não é tão industrializado, enquanto que o Brasil trouxe a tecnologia desenvolvida na Alemanha de industrializar painéis e montá-los diretamente na obra. O grande destaque da construção em wood frame é que a madeira, por ser um material bastante versátil, pode atender todos os gostos e não precisa estar exposta.
No caso da madeira laminada colada, o Brasil, até o momento, tem uma produção relativamente pequena. Por conta disso, o custo ainda é relativamente alto. Para aumentar a demanda, é preciso aumentar a produção e diminuir os custos. Hoje, a produção anual deste tipo de estrutura é de dois mil metros cúbicos. Com a baixa industrialização, o produto tem alto valor agregado e tem atingido um público de alto padrão.
Já as treliças industrializadas atendem praticamente todos os tipos de construção, podendo ser de pinus ou eucalipto. A indústria, segundo o diretor da Stamade, tem preferido o pinus, por questão de transporte, porque facilita a montagem. Essas estruturas foram desenvolvidas para uso de madeiras de baixa densidade e têm um mercado em potencial para madeira tratada, pois as treliças têm centrais de produção que podem atender ao controle de qualidade. Outro benefício é que esse tipo de construção tem praticidade e redução de mão de obra, o que ajuda a reduzir os custos de mão de obra e material.
“É um material mais competitivo, principalmente se tiver muita repetição. Quando a construção tem muitas casas iguais ou prédios iguais, essa repetição torna o sistema muito mais econômico. Possibilita também a previsibilidade de tempo, pois é possível montar um cronograma e cumpri-lo”, comenta.
Mas mesmo com inúmeros benefícios em torno da utilização da madeira como material construtivo, Stamato avalia que o mercado ainda enfrenta muitas dificuldades. Para ele, a falta de organização e de padronização do setor madeireiro causa perda de credibilidade, e é neste quesito que o segmento perde força para os outros setores.
“O setor madeireiro não está organizado. Se temos essas dificuldades, precisamos encontrar soluções. Um dos caminhos é fortalecer as associações que defendem o setor. Não adianta uma empresa tentar; temos que ter uma entidade setorial, que não defende apenas um interesse particular. É isso que vai trazer competitividade para o setor”, salienta.
Para o especialista, as empresas envolvidas no setor madeireiro precisam se organizar e não deixar que outros segmentos conquistem o espaço da madeira.
“Precisamos transformar o produto ‘madeira’ em algo interessante para um grupo cada vez maior de pessoas. Somos nós que temos que fazer isso. Precisamos lançar o nosso conhecimento para a população em geral. Não é fácil, mas é algo que temos que fazer, pois sem isso não conseguiremos crescer. Temos uma missão muito mais abrangente. Somos um produto que é uma solução para um problema mundial. Precisamos trabalhar para difundir isso”, completa. (Obra 24h)