mercado

Microapartamentos fazem sucesso, apesar da crise

Esqueça as varandas com churrasqueiras, a sala de televisão, a cozinha ampla, o cantinho especial para a mesa de jantar com dez lugares. O sucesso da vez no mercado imobiliário é um apartamento de apenas 10 m². Lançado no mês de agosto, na região central de São Paulo, um empreendimento de 72 unidades com esta metragem minúscula, já tem fila de espera. A demanda, segundo a construtora responsável pelo prédio, a Vitacon, é de três interessados para cada apartamento. É um imóvel que atrai mais pelo bairro do que pelo espaço interior. Localizado em Santa Cecília, na rua das Palmeiras, em São Paulo, o imóvel de 10 m² custa R$ 99 mil e terá um condomínio em torno de R$ 250. “O pessoal não se incomoda de viver em um lugar menor, se for para viver mais perto de onde trabalha ou estuda”, diz Alexandre Lafer Frankel, CEO e fundador da Vitacon.

Levantamento do Zap Imóveis mostra que a demanda por apartamentos de até 30m² cresceu 37% de janeiro a agosto de 2017 em comparação ao mesmo período de 2015 (para imóveis usados). Frankel está de olho nesse potencial. O jovem executivo de 39 anos se mostra um entusiasta dos microapartamentos, ou ultracompactos, como ele prefere. Lançou a Vitacon, incorporadora e construtora, em 2009. O primeiro empreendimento foi um imóvel de 43 m², já considerado pequeno para os padrões do mercado imobiliário. O executivo estava de olho em um público crescente, de executivos bem-sucedidos ou investidores, que tinham cansado de pagar por flats, mas o faziam pela boa localização. Frankel pensou que poderia oferecer um espaço menor, onde eles pudessem se sentir em casa. O que o apartamento não permitisse, a área do condomínio complementaria, com espaços para convivência, lavanderia e diversão. “Propusemos um novo estilo de vida”, diz.
Frankel gostou do conceito compacto. Lançou nos anos seguintes prédios em torno de 30 m², depois de 20 m² e até de 14 m² em 2015. O público alvo inicial ampliou-se. Passou a atrair casais sem filhos, estudantes, jovens que queriam sair da casa dos pais, casais do interior que buscavam uma base em São Paulo, idosos que já não moravam mais com os filhos ou netos. Hoje, segundo Frankel, o público gay solteiro “é fortíssimo”, além de ser alta a presença entre os compradores dos imóveis compactos de cariocas que passam a semana na capital paulista e até de paulistas que vivem em Alphaville e querem evitar o trânsito por algumas horas. “Adoraria que todo mundo pudesse viver em espaços maiores, mas essa solução dá maior acesso, pelo bom custo-benefício. É uma forma de democratizar a moradia”, afirma Frankel.

Colocar todos esses projetos em prática, porém, exigiu desenvolver novas soluções não disponíveis em larga escala no mercado imobiliário brasileiro. Ao diminuir a metragem, cada pequena área precisou ser milimetricamente pensada para uma ou até mesmo várias utilidades. O armário que se desloca, a mesa que se abre e fecha na vertical, a cama que vira sofá … Cases da indústria naval e de aviação foram usados como inspiração pela contrutora de Frankel. “Essas indústrias já estão acostumadas a lidar com espaços reduzidos há um bom tempo”.

O novo apartamento de 10 m² trouxe o desafio de pensar ainda menor. No imóvel, só há espaço para um sofá-cama, TV e um pequeno guarda-roupa. Por R$ 40 mil a mais, é possível comprar a unidade já mobiliada. Frankel garante, porém, que é possível encaixar móveis de tamanhos normais no minúsculo apartamento e decorá-lo para morar com cerca de R$ 5 mil. No térreo, há um coworking, para quem quiser trabalhar com mais espaço, um lounge para quem quiser receber visitas, uma lavanderia e um pub para conversar com os amigos. Há ainda uma cozinha compartilhada. “Porque é claro que ninguém vai fritar um bife em 10 m²”, brinca Frankel. Ele define o seu empreendimento como um “hub social”, onde você trabalha ao lado de vizinhos, faz amigos e a lavanderia parece cena de filme. “Vira lugar romântico até”.

Os futuros empreendimentos da construtora incluem projetos deste mesmo tamanho. Um imóvel de 10 m² será lançado perto da região da Paulista, privilegiando a localização. A estratégia é ampliar o leque de tamanhos, “construindo prédios que vão acompanhando a pessoa ao longo da vida”. Um dos planos, por exemplo, é lançar um apartamento pequeno para o público idoso ao lado do hospital Albert Einstein na capital paulista. Outro, na rua Capote Valente, no bairro de Pinheiros, terá como prioridade questões de saúde e bem-estar e contará até com horta compartilhada.

Quando questionado sobre a crise econômica e as possíveis dificuldades enfrentadas pelo setor imobiliário, Frankel diz que 2017 é o melhor ano da história companhia. Ele não revela o faturamento da Vitacon, mas diz que o VGV (volume geral de vendas) é, até o momento, de R$ 470 milhões.

E no futuro poderemos ter apartamentos ainda menores do que 10 m²? Frankel confirma a possibilidade e conta que conheceu imóveis no Japão com até 6m². E onde era possível “viver bem”, ele frisa. “Havia um tatame gigante e as roupas eram guardadas embaixo dele. Um fogãozinho ao lado e tudo funcionava perfeitamente bem”. (Época)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.