construção civil

Ciclo recessivo da construção fica perto do final e retomada entra no horizonte

Operando em fases que passam pela expansão, excesso de oferta, recessão e recuperação, o preço do m² encolheu 17% entre 2014 e 2017, bem abaixo da década de 1980, quando o tombo foi 79%.
Operando por meio de ciclos que duram cinco anos, o mercado imobiliário brasileiro se aproxima do fim da quarta era recessiva no preço dos imóveis da história recente. Aos que pensam que a queda no valor do metro quadrado é obra apenas de um governo ou gestão econômica, um alerta: no final da década de 1980 o valor das residências caiu 79%.
Entre 2014 e 2017 os imóveis brasileiros desvalorizaram, em média 17%, segundo a série histórica calculada pelo Índice FipeZap. O resultado, apesar de ruim para o mercado, é fruto de um caminho já conhecido: expansão, excesso de oferta, recessão e recuperação.
Segundo o professor de história da economia brasileira e doutor em macro economia pela Universidade de São Paulo (USP), Mário Andrade, ainda atravessamos o período da queda nos preços, e o ponto de inflexão para a recuperação se dará ano que vem. “Analisar a história é fundamental para compreender comportamento do mercado. Vejo pessoas tratando o momento atual como o pior da história, e isso é um erro”, afirma o acadêmico.
Na análise das ‘crises’ desse setor, Andrade ressalta o encolhimento dos preços que aconteceu entre 1980 e 1984, quando os valores caíram 37%. “O pior momento se deu entre 1986 e 1990, quando o tombo foi de 79%”, lembra o professor, destacando que no começo dos anos 2000 houve mais uma baixa, de cerca de 32% até 2004.
“Essas retrações são inclusive uma peneira natural do setor, e é quando novos protagonistas aparecem e os empresários ‘aventureiros’ [que entraram no ramo na alta] deixam de operar”, comenta.
Para Andrade, independente da queda nos preços recente, houve nesse último ciclo uma ampla divulgação da crise, o que teria sido responsável para essa sensação de “fundo do poço”. “Esse ciclo não foi o maior da história, mas sem dúvida foi o com maior ‘publicidade’”, diz ele, que creditou à internet essa propagação.
Uma história de crises
Operante desde a década de 1970 a construtora mineira Ricci Participações enfrentou todos os ciclos recessivos citados por Andrade. O CEO da empresa, Antonio Roman Ricci, que atua no grupo desde 1985, garantiu ao DCI que o momento atual não é o mais difícil. “A queda no preço tira o sono do empresário, mas a inflação arrepia até a alma. No final da década de 1980 a inflação era absurda, e isso tornava o meu negócio inviável. Foi um período horrível”, diz o executivo. Na média anual, a década de 1980 somou inflação média de 233,5% ao ano, segundo série histórica da Fipe.
Mais para frente, no começo dos anos 2000, Ricci precisou fazer cortes ainda maiores. “Após um relativo período de estabilidade, a recessão do começo da década de 2000 nos pegou pelo pé. Eu cheguei ao ponto de vender meu carro para comprar uma caminhonete e levar material de construção ao canteiro de obra, porque não tinha mais condições de pagar frete”, lamenta.
Foi nesse momento também que o conselho da família Ricci, que fundou a empresa, decidiu não alçar voos muito maiores. “Pensamos em pegar empréstimos para tentar ganhar mercado após 2004, mas percebemos que o ciclo recessivo voltaria antes de terminarmos de pagar nossas dívidas,”
A questão do alto endividamento quando o mercado está em alta também foi citada por Andrade, da USP. Segundo ele, quando o mercado imobiliário começou a crescer vertiginosamente, a partir de 2011, muitas empresas abriram capital, procuraram investimentos estrangeiros e agora lidam com as consequências. “Temos construtoras pedindo recuperação judicial porque não conseguiram repor os empréstimos antes do mercado desaquecer.”
Retomada
Tendo em vista que o ciclo recessivo – independe de percalços macroeconômicos – já entrou em seu quinto ano, o mercado começa a ver no horizonte a retomada dos preços. Para o ano que vem, a tendência é que o valor do metro quarado fique positivo, mas não de uma hora para outra. “2019 será o ponto de inflexão, mas nada acontece da noite para o dia. O que a equipe econômica do governo pode fazer é facilitar acesso ao crédito, para estimular a venda”, diz, já otimista com o futuro, o CEO da Ricci. (DCI)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.