Imóveis

Com queda em novas obras, reformas ganham espaço

As reformas têm se mostrado uma alternativa para arquitetos e profissionais da construção civil em meio à queda no número de obras novas, causada pela crise que atinge o setor nos últimos anos. O crescimento das renovações em imóveis usados também ocorre devido à saturação dos grandes centros urbanos, que têm poucas áreas livres para construções e possuem muitas opções de casas e edifícios que podem ser remodelados.

Segundo dados do Sistema de Inteligência Geográfica (IGEO) do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), os projetos e obras de novas construções tiveram queda de 7% entre 2015 e 2017. No mesmo período, as renovações tiveram um incremento de 20%. Se também forem considerados os trabalhos de arquitetura interior, o crescimento chega a 43%. Em números absolutos, no entanto, o total de novas construções é quase cinco vezes mais alto que o de reformas: 503.239 contra 111.974, em 2017.

Para o presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães, a ideia de uma arquitetura para todos é um dos motivos para as obras de reforma estarem em um momento de valorização. Segundo ele, o trabalho da construção civil precisa ser para toda a população, e não apenas para os segmentos mais privilegiados da sociedade. Com isso, mais arquitetos têm atuado nesse campo, tanto por orientação do Conselho quanto por incentivos governamentais.

“Os arquitetos estão começando a se inserir também nesse mercado, levando serviços de melhor qualidade à população de baixa renda”, afirma Guimarães. Isso é uma maneira de combater o problema do déficit de habitação no país e ajudar na reorganização dos espaços urbanos, atendendo às demandas das cidades e impactando também na saúde pública e no saneamento.

Com o crescimento das reformas, ganhou força no Brasil o conceito de Retrofit, já em voga em países europeus, que consiste em uma “cirurgia plástica” nas edificações existentes. É comum aplicar essa noção na mudança do uso de um prédio, como, por exemplo, um edifício residencial que se torna comercial, ou vice-versa, algo que tem ocorrido com mais frequência no país.

Os centros das metrópoles brasileiras são o alvo preponderante do Retrofit. “São bairros onde se originaram as cidades. Você tem prédios antigos e uma dificuldade muito grande em utilizar novos terrenos”, explica o engenheiro e vice-presidente de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Ricardo Yazbek. Dessa forma, o rearranjo das edificações ajuda a suprir as necessidades. Yazbek salienta, no entanto, que ainda falta legislação específica para isso no Brasil, já que alterações em prédios antigos exigem cuidados específicos.

Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife têm vários prédios antigos, que vão desde o período colonial até o início do século XX. A sua manutenção é importante, tanto pela preservação do patrimônio histórico quanto pela praticidade: é mais fácil adaptá-los para o uso moderno do que os demolir para construir outros. Para isso, no entanto, especialistas esperam avanços na legislação. “Há muitos dispositivos recentes do Código de Obras que é preciso atender, mas muitas vezes o prédio não dá condições”, diz o arquiteto e diretor-executivo da vice-presidência de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Secovi-SP, Eduardo Della Manna.

Para Della Manna, mesmo que sejam criadas leis abrangentes para reformas que englobem as limitações dos prédios antigos, algum entrave sempre poderá aparecer. A solução para isso, segundo ele, seria fazer com que os municípios tivessem um olhar específico para essas obras, delegando algum órgão especial para analisar cada caso.

A setor da construção civil espera que o crescimento de obras novas seja retomado nos próximos dois anos, se concretizando a partir de 2019. “O que está acontecendo é uma movimentação na aquisição de áreas. Acho que vamos ter produtos diferentes, menores, mais compactos, para diminuir o déficit habitacional”, diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), José Romeu Ferraz Neto.

Enquanto a compra de novos terrenos é um indício de recuperação, o setor de projetos já teve uma retomada sutil. Segundo Neto, eles são o início de todo o processo de novas obras, assim como as encomendas de orçamentos para as construtoras, movimentando todo o mercado. (G1/Globo.com)

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