Podem faltar R$ 38 bi para financiamento imobiliário nos próximos dez anos, diz FGV
Com uma projeção de 9 milhões de novos domicílios nos próximos dez anos,
podem faltar R$ 38 bilhões por ano, em média, para o financiamento da casa própria,
aponta estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas).
A maior parte do déficit, de R$ 22 bilhões, viria dos recursos do FGTS
(Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), considerando que o plano plurianual
atual do fundo prevê um orçamento de R$ 50 bilhões em média por ano, aponta
Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE
(Instituto Brasileiro de Economia).
“Ainda assim, é uma projeção otimista, porque a gente sabe que o FGTS já
está com problemas e o plano plurianual pode não ser realizado porque os
orçamentos estão acima das fontes”, acrescenta.
O estudo foi apresentado em evento da Abrainc (associação de incorporadoras)
com o Sinduscon-SP (sindicato da indústria da construção) nesta terça-feira
(16).
Para suprir a nova demanda habitacional na próxima década, seria necessária
uma média anual de recursos para financiamento de R$ 240,7 bilhões, sendo R$
72 bilhões do FGTS, de acordo com a FGV.
“Existe no horizonte escassez de recursos para financiar a demanda do
déficit habitacional. Ou ele não vai se reduzir, ou pode até aumentar”, diz
Robson Gonçalves, coordenador da FGV Projetos.
Em 2017, o Brasil tinha 73 milhões de famílias e um déficit habitacional de
7,8 milhões de domicílios, segundo estimativa da FGV. A maior parcela (92%)
dessa moradias com problemas estava nos estratos de famílias com renda de
até três salários mínimos.
Apesar da queda na taxa de formação de famílias entre 2016 e 2017, de 1,6%
para 0,9%, nos próximos dez anos deve haver retomada do crescimento, com uma
taxa média de 1,2% ao ano, diz a FGV.
Um cenário otimista da demanda habitacional para os próximos anos incluiria
a ascensão de classe de famílias, sobretudo com o crescimento daquelas entre
três e cinco salários mínimos, que poderiam representar um quarto da demanda
habitacional. Em 2017, elas representavam 20%, enquanto 41% vinha de
famílias com um a três salários mínimos.
Ricardo Carneiro, economista e membro da equipe econômica da candidatura de
Fernando Haddad (PT), diz que as taxas de juros no
Brasil são altas e voláteis, o que seria um problema sério para a questão
habitacional no país.
“É um problema de anos, inclusive estivemos no governo e a questão não se
resolveu”, afirmou, em debate após a apresentação do estudo. Representante
econômico do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) não esteve presente.
Segundo Carneiro, há um conjunto de interesses que privilegiam a inserção do
Brasil de forma financeira no cenário internacional. “Uma economia aberta
deste tipo, com esse grau de especulação, jamais terá taxas de juros baixas
e estáveis. Enquanto não tivermos isso, uma parte da oferta de serviços de
construção e habitação que poderia ser feito via mercado irá necessariamente
para a conta do governo, de subsídios e fundos especiais, porque a população
não suporta pagar essa equação”, disse.
O estudo da FGV aponta que, para o financiamento de um imóvel de R$ 202 mil,
o aumento da taxa de juros de 6% para 9% retiraria cerca de 4.000 famílias
da possibilidade de comprar a casa própria.
Uma das propostas do PT, diz Carneiro, é a criação de um orçamento de
investimentos plurianual -incluindo as destinações ao programa Minha Casa
Minha Vida e aplicações em defesa, segurança, educação e saúde- que não seja
contingenciável e não entre na conta do superávit primário.
“É um orçamento com começo, meio e fim, que vai durar os quatro anos de
governo e não vai mudar, não será comprimido. É imexível”, diz.
Segundo Carneiro, os recursos para a iniciativa poderiam vir de concessões
(dinheiro de outorga) e impostos vinculados, por exemplo.
O economista disse ainda que a programação da candidatura petista é ter um
patamar de entrega média de 500 mil habitações do MCMV por ano,
privilegiando sobretudo as faixas 1 e 1,5. Para isso, seriam necessários R$
10,2 bilhões. “Independentemente de quem ganhe, acredito que haverá
oportunidade para negociar orçamento”, diz. (Folha de São Paulo)