RMC: classe média empobrece e ricos ficam mais ricos
A atualização do atlas Campinas Metropolitana: Diversidades Socioespaciais na Virada para o século XXI, elaborado por pesquisadores do Nepo (Núcleo de Estudos de População) da Unicamp sugere que parte da classe média passou a integrar a chamada “Cordilheira da Pobreza” na região de Campinas, enquanto a “Cordilheira da Riqueza” segue cada vez mais uniforme.
O atlas foi elaborado a partir de dados fornecidos pelos censos de 2000 e 2010. A publicação atualiza edição anterior, lançada em 2006 e que estava baseada em informações das décadas de 80 e 90. A autoria é dos pesquisadores José Marcos Pinto da Cunha e Camila Areias Falcão.
“Houve um crescimento significativo do que nós denominamos de Cordilheira da Pobreza, que é composta pelas periferias de baixa renda, como Hortolândia, Sumaré e Monte Mor. Essas áreas sofreram um processo de heterogeneização. Elas também passaram a ser ocupadas por famílias de média renda, o que a gente não identificava com tanta clareza nas décadas de 80 e 90”, afirma Cunha.
Os fatores que explicam essa transformação, conforme Cunha, têm sido analisados em outros estudos elaborados pelo seu grupo de pesquisa no Nepo. Mas o pesquisador adianta uma hipótese. “Ao longo dos últimos anos, nós assistimos a novas formas de ocupação do espaço urbano, como a ampliação do número de condomínios horizontais e verticais voltados para famílias de média renda. Outro aspecto é que, com o envelhecimento da população, ocorre o aumento do nível socioeconômico das pessoas, favorecendo essa heterogeneidade.”
Já em relação à Cordilheira da Riqueza, aquela com grande concentração de população de alta renda, que ocupa uma faixa que se estende desde Vinhedo até Paulínia, passando por Campinas e Jaguariúna, aconteceu justamente o contrário: ficou ainda mais elitizada.
“Nos últimos anos, essas áreas foram loteadas e receberam novos condomínios de alto padrão, que vieram se juntar aos já existentes. Embora não exista cidade totalmente homogênea, essa Cordilheira da Riqueza tem concentrado população com esse perfil”, assinala o coordenador do atlas.
MENOS ATRATIVA
Outra constatação do atlas é que, nos anos 2000, a Região Metropolitana de Campinas apresentou um crescimento demográfico inferior ao da década anterior – 1,8% ante 2,5%.
“Isso acontece não somente por causa da queda da fecundidade, o que se observa no restante do Brasil, mas também por causa da redução do volume e intensidade da migração. Em outras palavras, a região não se mostra tão atrativa a pessoas de outras regiões e estados quanto em épocas anteriores, principalmente nas décadas de 70 e 80”, aponta o pesquisador.
Por isso mesmo, o aumento das áreas mais pobres é surpreendente: como a imigração é menor, a Cordilheira da Pobreza deveria ficar estável, o que não ocorreu. (A Cidade On)