Campinas

Prédio da Chapéus Cury terá fachada restaurada e abrigará escritórios

Prestes a completar 100 anos, a histórica fábrica de Chapéus Cury, em Campinas, terá a fachada de seu prédio revitalizada. A linha de montagem de 1920 já foi uma das mais importantes do país, em uma época que praticamente todos homens usavam chapéus, e ganhou ainda mais fama nos anos de 1980, quando Harrison Ford usou um de seus adereços na série de filmes “Indiana Jones”.

Mas há pelo menos sete anos o glamour desapareceu do espaço, hoje fechado: o enorme prédio que toma o quarteirão entre as ruas Barão Geraldo de Rezende, Dr. Alberto Salles e a Avenida Francisco Glicério, no Guanabara, está depredado, pichado e sujo.

Agora, a expectativa é que o local ganhe vida nova com um empreendimento comercial. A fachada e a chaminé são tombadas pelo Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural), que vai acompanhar o processo e garantir que as características arquitetônicas originais do prédio dos anos 1920 serão preservadas.


No fim de novembro do ano passado, um estudo preliminar do projeto foi aprovado pelo conselho. A empresa responsável pela reforma será a TCX22 Empreendimentos Imobiliários, que vai fazer as salas comerciais no interior da fachada, a uma distância de 10 metros. Como o interior da fábrica não é tombado, por já ter sido modificado diversas vezes ao longo dos anos, e não conserva mais os traços do início do século passado, a empresa terá carta branca para demolir balcões, paredes e maquinários da antiga linha de montagem.

“Eles podem derrubar tudo o que quiserem, só deixar a carcaça. Porque nada que está dentro tem um valor histórico. Mas eles vão deixar esse recuo de 10 metros da fachada, que será escorada por uma rampa, para começar a construir no interior”, explicou Daisy Ribeiro da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural do Condepacc.

Ainda de acordo com Daisy, a empresa foi autorizada a fazer duas novas entradas na fachada original para que as pessoas possam acessar o empreendimento. A chaminé, que perdeu alguns tijolos em um vendaval no final de 2019, também será recuperada e preservada.

Daisy disse que a intenção do Condepacc era tombar a fábrica inteira, mas que quando os técnicos fizeram as vistorias no local, em 2009, perceberam que o interior estava destruído. “Era um emaranhado de coisas velhas. Não tinha nada que lembrava a linha de montagem”, explicou. Ainda não há prazo para a obra começar.

Segundo o Condepacc, o processo antes da construção ainda tem algumas etapas a serem seguidas para garantir que a integridade da fachada será preservada.

AUGE

Fundada em 1920 por Miguel Vicente Cury, a Fábrica de Chapéus virou um marco do início da industrialização campineira. O galpão de mais de 5 mil metros quadrados quadrados teve seu auge na década de 40 e 50, período em que fabricava chapéus com pelos de coelho, castor e lã de ovelha, e chegou a ter 800 funcionários contratados.

Quando fechou as portas, em 2013, tinha apenas 11 costureiras. Outro período de ouro da história da fábrica foi quando a produtora do filme Indiana Jones e o Caçadores da Arca Perdida, a Lucasfilms, de George Lucas, procurou a fábrica para confeccionar um modelo para o protagonista. Os proprietários receberam as medidas do ator Harrison Ford, mas o nome dele não foi revelado.

A fábrica fez oito chapéus para serem usados como figurino, do primeiro ao mais recente filme, além de outros 40 mil semi-acabados para o estúdio, para marketing.

Miguel Vicente Cury, um caixeiro de loja que se tornou duas vezes prefeito de Campinas (1948 a 1951 e 1960 a 1963), comprou a fábrica de uma família de alemães que estavam saindo do Brasil, reformou e fundou a Chapéus Cury. O último diretor do negócio foi Paulo Cury Zakia, sobrinho neto de Miguel.

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