Como serão as cidades e os hábitos urbanos pós-pandemia?
Antes de responder essa pergunta, é importante entender como as cidades foram planejadas e pensadas como polis, como explica o arquiteto e urbanista, Welton Nahas Curi. “A corrente urbanística dos últimos anos, e os Planos Diretores dos municípios, foram quase todos conduzidos para o adensamento dos centros urbanos, acompanhando a visão de que o adensamento ordenado proporciona melhoria da mobilidade, pois agiliza o tempo de locomoção pela diminuição das distâncias e reduz custos de infraestrutura e, consequentemente, melhora a qualidade de vida dos cidadãos nas cidades”.
Segundo ele, o adensamento provoca muitos investimentos em sistemas de transporte coletivo, ciclovias e privilegia o pedestre. “Consequentemente, o carro foi se transformado em um grande vilão. Nesse processo em andamento, várias cidades, como São Paulo, Nova York, Buenos Aires, Tokyo e Chicago passaram a ter melhorias de mobilidade na região central e envoltória, e o uso do carro se tornou indesejável diante das várias opções de mobilidade oferecidas”, completa.
De acordo com Curi, todo esse processo caminhava para um consenso e uma boa ideia. “Porém, com o surgimento da Covid-19, esse pensamento tende a mudar, pois os lugares mais atingidos são justamente os municípios mais adensados. Logicamente temos que passar por uma mudança nestes conceitos e repensar em uma nova estrutura. Tudo se fez novo. Cidades espalhadas como Campinas e Atlanta talvez sejam um novo modelo a ser pensado”, diz.
Pós-pandemia
“O que acontece hoje vai na contramão com o que aconteceu nos últimos 60 anos. Pela primeira vez na história, estamos vivendo uma reversão do êxodo rural para o êxodo urbano, o que era inimaginável até quatro meses atrás”, explica. Segundo Welton, isso muda toda a configuração da procura imobiliária. “Casas de campo, na montanha, na represa e bairros afastados do centro passam a ser ocupados por pessoas que estão trabalhando em home office e querem continuar nesta condição (quase 50%). Pessoas que tem a casa na montanha e um apartamento em São Paulo, por exemplo, estão vendendo este apartamento e ficar no campo, só indo a cidade quando solicitado e ficando em hotéis ou Airbnb”, finaliza.
Mobilidade
De acordo com o arquiteto e urbanista, com as novas tendências de moradia, e as variadas opções de transporte alternativo, como patinetes elétricos, ciclovias, Uber, BRT, etc; deverão sofrer alteração. “Agora com um público trabalhando de forma virtual, deverá haver uma diminuição da demanda do transporte coletivo. O que é extremamente positivo, pois evita o adensamento e melhora a acomodação”, explica Welton.